domingo, 7 de junho de 2009

Vida Económica



O FARRAPO


O Dominguisense provou ser sempre independente, lutador, com uma vontade de ferro, capaz de ultrapassar os maiores obstáculos. Como as terras de cultivo eram poucas e pertenciam na sua maioria à casa do senhor Silvestre, foi no negócio do farrapo e da sucata, que os habitantes do Dominguiso encontraram solução para alguns dos seus problemas.
“O homem do saco”, como era conhecido o farrapeiro, a pé ou de bicicleta, calcorreava todo o país. Compravam os “desperdícios” e, de seguida, os vendia aos armazéns. Era aqui que os separavam “por cores”. As mulheres trabalhavam nos “caniços”, “escolhiam” por cores e qualidades.
O farrapo nem todo era considerado “bom”. Dava-se preferência à malha branca de lã e ao pano de cobertor serrano tecido nos Trinta. As “mesclas” pouco valiam.
O farrapeiro, à medida que negociava, ia pesando, pois trazia sempre consigo uma balança, mais propriamente uma “Romana”.
Os farrapos eram vendidos às fábricas da Covilhã, cuja indústria estava no auge, e donde nasciam os famosos tecidos da Covilhã.


BORRACHA VIRGEM


Também era comprada pelo sucateiro \ farrapeiro do Dominguiso. Era um negócio feito com Espanha. Os armazenistas compravam aos farrapeiros e vendiam a este país. A procura era tanta, que uma grávida espanhola teve o filho no comboio. Era conhecida pela tia Chau, e veio inúmeras vezes à aldeia negociar.


AS METEDEIRAS DE FIO


Mulheres do Dominguiso que “ultimavam” as peças de tecido vindas das fábricas da Covilhã. Com “olho fino” e sabedoria, metiam fios nos “defeitos”, que os teares não conseguiam evitar.Os tecidos conhecidos por “cortes” eram trazidos de carroça e, por vezes, eram as mulheres que, em bandos de três e quatro, os iam buscar às fábricas da Covilhã e de Tortosendo.
Eram colocados às portas e aí, ao soalheiro, trabalhava-se e cantava-se enquanto o tecido ia ficando cada vez mais perfeito. Caso não passasse na “passadeira”, voltavam atrás e assim o trabalho não rendia. Por vezes eram as vizinhas que davam uma “mãozinha” a tirar a “pinta”.
“CRAVAGEM DO CENTEIO”, “LENTICÃO”, ou “CORNACHOS
Estes produtos eram comprados pelos farrapeiros, nas terras onde abundavam as searas de centeio. Iam comercializá-los aos mercados e feiras da Guarda e, por vezes, eram os compradores que vinham à aldeia. O lenticão chegou a render 500$00 cada Kg!
Também o cobre e o metal eram comprados pelo farrapeiro, actividade ainda hoje florescente nos nossos dias.


TEAR DE PAU
Na nossa aldeia o tear era um “ganha-pão”. Nele teciam homens e mulheres. Teciam-se “mantas de ourelos” e peças de “escocês” (escarcês) e “rachas” por conta das fábricas. Muitos dos alvarás existentes na aldeia foram comprados pelos fabricantes da Covilhã, que deste modo, puderam adquirir teares de ferro.


RIO ZÊZERE


O rio Zêzere era um rio abundante de águas límpidas e areia branca. No Inverno a corrente inundava os lodeiros, tornando-os campos de cultivo, para que pudessem semear-se.
A população tirava a areia com uns “cabazes” ganhando 2$50 por dia. Era um trabalho árduo, executado por crianças e mulheres.


AGRICULTURA


No Verão “tratavam-se” os lodeiros. Aí se semeava o milho e o feijão frade. A água era extraída do rio para a rega com “rodas de pau”.
Os lodeiros pertenciam às famílias mais abastadas. O agricultor semeava e recebia uma parte. Ao dono do lodeiro cabiam três partes.
As hortas eram tratadas nas leiras, pelas quais era paga uma renda. Também as batatas eram divididas. Faziam-se quatro montes após o arranque. Para o trabalhador ficava um monte e ficavam três para o proprietário.


COLHEITA DA AZEITONA


A população colhia a azeitona que pertencia quase toda ao senhor Silvestre e a duas ou três famílias mais abastadas. O azeite era extraído da azeitona nos lagares da aldeia. Quatro partes ficavam para o proprietário e uma parte para o trabalhador.


REBUSCO


A aldeia fazia sempre “o rebusco” da azeitona, da castanha e da uva. Iam mulheres e crianças “à faina” à procura de algo que ficara nos campos.
MIGRAÇÕES NAS DÉCADAS DE 40, 50 E 60
Era vê-los partir… apanhavam o comboio em Alcaria. Eram homens, mulheres e crianças. O seu destino era Santarém, Pombalinho, Golegã, Entroncamento, Santa Margarida. Iam para a apanha da azeitona e eram conhecidos pelos “ratinhos”. Dormiam em grandes barracões e os mais velhos eram responsáveis pelos mais novos.
Ali se conservavam nos chamados “montes” durante dois meses aproximadamente. Voltavam com as economias que, de tão poucas, mal chegavam para pagar as dívidas que cá deixavam – a renda da casa, as botas novas, o merceeiro onde a merenda de viagem ficara por pagar – enfim… os “ratinhos” iam pobres e pobres voltavam…


EMIGRAÇÃO PARA FRANÇA


Nos finais da década de cinquenta e sessenta muitos habitantes da aldeia partiram à procura de melhores condições de vida. Muitos iam a “salto” pois os papéis e documentos necessários eram muito difíceis de conseguir.
Alguns deles conheceram as agruras das prisões portuguesas e espanholas mas, com a vontade férrea que lhes é peculiar, voltavam a “fugir” até terem êxito.
À aldeia, onde as mulheres ansiavam pela chegada do carteiro, começavam a chegar os primeiros “vales”.
A população, com a construção de novos fogos habitacionais, adquiriu uma fisionomia diferente. O mês de Agosto na aldeia perdia a sua pacatez, os “franceses” chegavam de férias. Traziam potentes “máquinas” e por toda a povoação se ouvia uma língua diferente



Cultura



SPORT LISBOA E ÁGUIAS DO DOMINGUIZO


O Sport Lisboa e Águias do Dominguizo pode inserir-se no principal quadro das colectividades do concelho da Covilhã. Foi fundada a 28 de Outubro de 1945, e as cores que predominam são o encarnado e o branco. Esta colectividade vive essencialmente, da receita da quotização dos cerca de 1000 sócios. Há muito que os sócios sonhavam em ter um polidesportivo, e com o trabalho das direcções esta associação já tem polidesportivo com três pisos. No primeiro o ringue para jogos de futebol, ténis e mini-basket. No piso central tem a sede social, com bar onde se pode conviver, jogar snooker, bilhar e máquinas. Este espaço tem ainda três salas, duas delas para cartas e uma para leitura. No piso inferior tem um auditório/cinema onde se pode fazer teatro, reuniões e está em funcionamento o cinema. Agora o Águias já tem reunidas as condições necessárias para que os jovens passem mais tempo nesta colectividade.